quarta-feira, 13 de agosto de 2008

lembranças que o ato de comer traz


Em minha sessão de terapia hoje, conversei sobre o que significava o ato de comer pra mim... essa discussão não é nova, mas hoje descobri um novo e assustador significado para mim.
Acho interessante compartilhar esses aprendizados pois podemos aproveitar as experiências dos outros para aplicarmos em nossas vidas.
Durante toda minha infância, meu pai foi um pouco ausente dos principais momentos da minha vida (festinhas da escola, por exemplo), pois estava sempre trabalhando. O jeito do meu pai amar era proporcionar uma vida muito confortável para mim e meus irmãos. Nosso único momento em família, ou o mais marcante para mim, aconteciam nos almoços de domingo. Saíamos para almoçar em belos restaurantes em São Paulo, cada domingo em um. Lembro muito desses almoços com muitas saudades.
Na minha adolescência, meus pais se separaram e minha relação com o meu pai, que já não era muito estreita se reduziu a nada. Encarei aquele momento como um período de abandono. Me senti sem pai. Foi aí então que descobri a relação que o meu inconsciente fazia....
Quando é que eu estava próxima do meu pai? Quando estávamos almoçando....

ou seja.... estar comendo = estar próxima do pai

Esse aprendizado me fez pensar muito e me chocou. Imagina, eu nunca tinha pensado nisso... não pode ser. Comecei a passar minha vida a limpo e lembrar desses momentos e o que a comida me trazia: a lembrança (no inconsciente) do meu pai.
Agora meu desafio é anular esse elo do passado. Comer pra mim tem que ter novos significados,
Não quero mais esse sentimento de abandono no meu coração.

Aí comecei a pensar como a "comida" é um elo forte de ligacão entre nós e as outras pessoas. A mesa é um claro exemplo disso... é um lugar de comunhão, de compartilhar a vida.
Quantas vezes nos lembramos de entes queridos que não estão mais entre nós quando fazemos determinados pratos: "o bolo que minha avó fazia", "o azeite que meu tio gostava" e por aí vai...

Resumindo: os alimentos estabelecem fortes ligações emocionais... vamos reparar um pouco mais o quanto essas relações influenciam nosso ato de comer.

4 comentários:

Anabela disse...

Querida Claudinha,
Vou-me repetir de novo, mas amei este post. Adoro vir aqui, por isso recomendo este teu cantinho.
Sou fã de terapia e há pessoas que julgam que só maluco é que procura psicologo ou psiquiatra, não, nada disso!!
Eu fiz terapia, aprendi muito e melhorei, por exemplo a minha relação com o meu pai.
O meu pai sempre foi ausente e muito fechado no tempo. Parece que vive debaixo duma pedra...não evoluiu e sempre querendo todo o mundo subjugado às suas ideias...é um inferno, especialmente para a minha mãe.
Enfim, aprendi a lidar com ele, a comunicar, dialogar, coisa que até aí era quase impossível e passei a ser talvez a única pessoa a conseguir chegar a ele e de fazer valer, sem lhe parecer imposição, algumas das nossas ideias.
Agora não faço, porque sem emprego, torna-se complicado fazer terapia e juntar as consultas de nutrição...mas um dia, gostaria de voltar!
O acto mais simples pode realmente associar-se a um elo do passado e está na nossa cabeça construir novas razões.
Se puderes, mantem essa terapia e vai partilhando sim, que eu sou das primeiras a te incentivar.
Se quiseres trocar alguma informação mais restrita, usa :
beluxana@netcabo.pt
MSN - beluxana@msn.com
beijo enorme cheio de muito carinho e um xi coração cheio de mimo

disse...

É verdade Ana Cláudia. O pior é que o marketing de consumo descobriu essas associações de comida com bem estar e coloca o "mote"em tudo. Já viu como sabonetes, cosméticos e "coisas de mulher" estão associados cada vez mais com perfumes, cores e formatos de sobremesas, por exemplo? Não basta lutar com a comida em si e dissociá-la das lembranças. Temos que lutar com outros fantasmas mais reais à nossa volta. Bjs e boas reflexões.

Crista disse...

Oi linda,
Tb. faço terapia e é incrivel as coisas que descobrimos. Engraçado que todas as mulheres sempre têm algo mal resolvido na vida devido a pequenos (ou grandes)detalhes da infância em relação à figura paterna!!!

Bem lindona,
Vim te desejar uma óptima quinta e agradecer as tuas palavras.

Anônimo disse...

Adorei ler esse post em especial. Porque concordo com você: comer tem muitos significados e temos de aprender a selecionar quais manter.

Lá em casa também comer era um momento de muita alegria e comunhão. Minha mãe até hoje fica toda orgulhosa quando consegue fazer alguém comer... ela cosinha muito bem e fica tão tão feliz se as pessoas comem mesmo, muito...

E eu tinha problemas de peso (baixo) quando criança e conseguir comer "tudo" era raríssimo então ela me elogiava demais quando acontecia... Percebi ela fazendo isso com meu filho que também tem baixo peso... e disse "mãe, ele não precisa de elogios porque comeu" enfim...

Vamos aprendendo né?

Beijos